A iminência de uma derrota eleitoral com o encerramento de um ciclo de poder, a briga na família sem indícios de reconciliação, a saúde precária. Todo esse clima fez o prefeito de Sobral, Ivo Gomes, acionar o modo desespero. Só isso justifica o destempero verbal durante entrevista ao jornalista Izaías Nicolau, na Rádio Tupinambá, na última quarta-feira (10/01). O deboche e o desrespeito fazem parte de sua personalidade. Desta vez, porém, vários decibéis acima do que costuma ser sua gritaria.

Não foi a primeira vez que ele chamou de doido o principal adversário político, deputado estadual Dr. Oscar Rodrigues (União). A outra, foi quando o parlamentar jogou a obra do prefeito no ventilador, dando conta do precário sistema de saneamento de Sobral, que estaria poluindo o seu principal manancial, o Rio Acaraú. Uma verdade que não se consegue colocar debaixo do tapete nem de jardins filtrantes. A vegetação tomou conta de toda a superfície do rio, sufocando as espécies.

Disposto a fazer arenga, embora tenha sido aconselhado a ser prudente, Ivo Gomes deu nota zero ao parlamentar estadual, criticou os parlamentares que, votados em Sobral, não enviaram emendas, e produziu uma deslavada mentira, a de que o deputado federal Moses Rodrigues (União) não mandara um centavo para Sobral. As redes sociais do deputado, de pronto, repuseram os fatos. Duas propostas, no valor global de R$ 1.209.212,00, foram destinadas ao Fundo Municipal de Saúde de Sobral. Outra, que também favoreceu a cidade, destinou R$ 2 milhões para o câmpus da UFC. Não acredito que o prefeito tenha mentido de forma deliberada, deve ser porque não tem informação sobre sua gestão. Tanto que, ao dizer ter recebido recursos destinados pelo deputado federal André Figueiredo (PDT), disse que era “não sei pra quê, não sei aonde”. É assim que governa Sobral.

Fez insinuações malévolas que, certamente, ensejarão medidas jurídicas (difamação, calúnia, injúria). Quando afirmou que o chanceler do Uninta não tem juízo, foi questionado pelo repórter: “O homem constrói um império desse, e não tem juízo? Sem ter como contra-argumentar, titubeou: “É dinheiro demais, é o tal do Fies”. E disparou uma saraivada de disparates. Criticou o Uninta que, segundo ele, seria fonte ilícita de construção de riqueza pessoal, por ser mantido por uma instituição filantrópica.

Ora, é difícil você encontrar uma faculdade, uma universidade, até mesmo as públicas, que não tenha como mantenedora uma instituição filantrópica. Assim como é difícil encontrar uma instituição de ensino superior que faça tanto reeinvestimento como o Uninta. A única universidade privada do Ceará, tida como a melhor do Nordeste, é mantida por uma fundação. São todas assim. Aliás, uma outra, aqui de Sobral, de quem faz parte de sua igrejinha, é também mantida por instituição sem fins lucrativos. A Faculdade Luciano Feijão pertence a uma ONG, Centro Social Clodoveu Arruda.

Com cursos de excelência reconhecidos pelo MEC, sendo o de Medicina o mais conceituado, o Uninta se expande constantemente, com unidades, além de Sobral, em Tianguá, Itapipoca, Fortaleza, Umirim e Cruz, levando ensino superior de qualidade aos cearenses. As obras na Cidade Encantada, que vai abrigar um câmpus, em Umirim, são monumentais. É a única instituição no Ceará ( segunda do Nordeste) a oferecer um curso superior na forma de internato. Inicialmente para o curso de Medicina Veterinária. São investimentos com os recursos arrecadados com as matrículas dos alunos.

Quando investe contra o Uninta, obra da engenhosidade de um sobralense, que nasceu, estudou e vive em Sobral, e se tornou orgulho dos sobralenses, o prefeito afronta uma instituição que é uma das maiores geradoras de emprego, com cerca de 2.600 postos de trabalho. Só com folha de pagamento, o Uninta injeta, anualmente, cerca de R$ 180 milhões na economia local. Além dos tributos que a Prefeitura amealha com o consumo dos colaboradores do Uninta, também arrecada em vários serviços e produtos que a instituição compra e mantém para as atividades universitárias.

Ao criticar o Fies, Ivo Gomes, revela preconceito contra pobres que desejam ingressar no ensino superior. O programa, criado pelo governo de Lula, financia o aluno, não a instituição. Mas Ivo, nascido em berço de ouro, que só estudou em escolas de elite (inclui Colégio Sobralense e Harvard), prefere que o ensino superior seja inacessível para quem não tem condições de bancar as mensalidades.

O nível de agressividade do prefeito está muito alto, até mesmo para os padrões da família Ferreira Gomes. Ivo ainda lembrou que o Uninta abrigaria os familiares do patriarca Oscar Rodrigues. Noves fora se tratar de uma empresa privada, é como se falasse de corda em casa de enforcado, tendo em vista as atribulações de uma guerra fraticida entre seus irmãos na disputa pelo poder. A questão está tão inflamada, que há de tremer até com uma pergunta simples, à guisa de saudação: “Como vai a família”?

Nem quando disputou as eleições diretamente com os Rodrigues (Moses/Oscar), nem mesmo nos debates, Ivo foi tão virulento nos ataques. A pachorra de outrora era a fleuma presunçosa de quem venceria de qualquer forma. Contrastando com a exacerbação de agora, quando nem a doença conseguiu lhe quebrantar o coração, sem livrar nem o bispo, nem o clero diocesano, é legítima a dedução de que suas pesquisas eleitorais estão a apontar um resultado adverso, coisa a que eles não estão acostumados. Podemos imaginar que a Princesa do Norte vai seguir novo rumo e que os atuais gestores vão perder até o rumo de casa.

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