Um alerta para as pessoas que vão passar as festas natalinas em lugares públicos. Muito cuidado e atenção! Confiram se as residências estão bem trancadas, redobre o cuidado com carteiras, bolsas e bolsos. É que o presidente Lula assinou ontem um decreto de indulto de Natal e milhares de eleitores dele já estão nas ruas sedentos para praticar o que bem sabem fazer. Ladrões, assassinos, estupradores, homicidas e latrocidas já nas ruas das grandes cidades brasileiras. As estatísticas mostram que  muitos dos que recebem o indulto e o benefício da “saidinha” de Natal, voltam a delinquir. Sem problema! Eles não votaram de graça em colegas que hoje ocupam elevados cargos nos altos escalões da República. Afinal de contas, alguns dos colegas, como vem lembrou Geraldo Alckmin, vice-presidente da República, fazem parte da organização criminosa que retornou ao local do crime. O cidadão cumpridor de deveres e pagador de impostos, proibido de usar arma para autodefesa, que se lixe. Esse marginal não deve mesmo sair de casa neste Natal. Ele vive de rosário em punho e ainda se mete a cantar o hino nacional brasileiro em público. Pior: mesmo proibido de porta arma ele é muito perigoso, porque porta a bandeira nacional e comete o pavoroso crime de usar roupas de cores verde e amarelo. Esse pessoal subversivo auriverde não pode atrapalhar o trabalho dos eleitores do Lula que ontem foram liberados para exercitar seus talentos.

SALÁRIO SUADO

Devemos desejar boas festas e bom descanso aos nossos representantes no Parlamento. Apesar de um ano de trabalho duro, os deputados terão apenas um breve descanso na quadra natalina. Na próxima terça-feira estarão de volta ao trabalho para concluir votações de matérias em pauta. O Orçamento do próximo ano, inclusive. Sem esquecer que para não perder o costume, o governador poderá enviar  mensagens de última hora para serem apreciada pelos parlamentares. Com algumas jabuticabas pelo meio. O salário de deputado é bom, mas é ganho com o suor do rosto. Muito suado.

CARGO ESPINHOSO

O suado salário do deputado me fez lembrar história que certa feita me contou o mestre e amigo Jáder de Carvalho, poeta insuperável e combativo jornalista. Língua ferida, impiedosa. Fazia oposição bravia a um governador do nosso Estado, salvo engano Menezes Pimentel, eleito mas transformado em interventor pela ditadura estadonovista a partir de 1937. Querendo pacífica convivência com Jáder, convidou-o a palácio, que aceitou o convite por uma deferência àquele de quem antes gozara da amizade. No palácio, salamaleques, cafezinho, conversa amena. Jogada a conversa fora, Jáder se despede. Mas, antes o governador lhe fez um inusitado pedido. Que apalpasse bem a acolchoada poltrona em que se sentava para exercer o mister de governante. Jáder obedeceu. Terminada as apalpadelas, o governador perguntou:

– Jáder, você encontrou algum espinho nessa poltrona?

E Jáder, ainda sem entender:

– Não! Nada de espinho. Ao contrário, é bem macia.

Então, o governador sorrindo disse em tom de blague:

– Mas, tem gente que acredita que este cargo é  muito espinhoso…

VIM FALAR COMIGO

Na Assembleia Legislativa do Ceará há poucos servidores meus contemporâneos de tempo de ingresso na Casa. Cheguei ali como estagiário em 1979, em 1980 fiz concurso para o cargo de Taquígrafo, conseguindo aprovação em terceiro lugar entre duas centenas de concorrentes. Daquele tempo a esta parte palmilhei essa longa trajetória sem me deixar encantar pelo canto da sereia. Tenho o maior apreço e gratidão por muitos com quem durante esses anos. Alguns, não poucos, já falecidos. Gosto tanto da Casa que não me aposentei ainda, preferi o “abono de permanência.” Agora, a Casa está cheia de gente nova, o que é perfeitamente natural. Um dia desses ia adentrando a Casa para o trabalho cotidiano, um  jovem me abordou:

– Senhor, para onde vai? O senhor poderia se identificar?

Olhei para o garoto, sorri e respondi:

– Sou Barros Alves e vou falar comigo mesmo, o que faço há 43 anos aqui nesta Casa.

Barros Alves é jornalista e poeta