Artigo – Não tenho religião (graças a Deus)

DEDICO ESTE TEXTO AO MEU AMADO PAI, VALMIR PONTES, QUE RETORNOU À VIDA ESPIRITUAL HÁ EXATOS 42 ANOS (EM 04/12/1981)! PEÇO A ELE QUE NÃO REENCARNE LOGO, PARA QUE POSSAMOS NOS REENCONTRAR AÍ, JUNTO COM MINHA MÃE. 

Fico chateado, até mesmo educada e contidamente irritado, quando certas as pessoas me olham de soslaio quando sabem que sou espírita. A reação delas vai do espanto ao desdém, do sorriso sem graça ao puro medo, como se fosse eu um perigoso alienígena. Alguns afirmam que “isto” se trata de uma “seita do demônio”!

Convenhamos: se existisse um “demônio”, o “diabo”, quem o teria criado, senão o próprio Deus? Ele, então, sendo a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas, eterno, imutável, imaterial, onipotente, soberanamente justo e bom, iria criar um “oponente” tão poderoso? Nós é que “criamos’, em momentos de fraqueza espiritual, nossos próprios demônios (aquele capetinhas que infernizam o nosso juízo e dos quais nos devemos livrar).

Trata-se uma contradição nos próprios termos, algo que os nossos circuitos neuronais (saudáveis) não conseguem processar. O Espiritismo, meus caros, vem a ser uma doutrina filosófica e moral que propaga o bem, tendo como um dos seus principais lemas “… fora da caridade não há salvação”.

E que se ENTENDEU, desde os primeiros estudos sistematizados de KARDEC – a começar pelo “Livro dos Espíritos”, de 1857 – foi que a morte NÃO EXISTE. Exceto, claro, a do corpo físico, simples envoltório carnal que se desgasta e desaparece com o tempo (assim como uma mala velha, que nos foi entregue bem novinha e bonita, se esgarça com o tempo). A vida espiritual, todavia, é eterna e até se renova periodicamente. 

Primeiro é imperioso explicar que, quando “morremos” (ou desencarnamos), não desaparecemos no “nada” (que sequer existe, como provou a física quântica) ou viramos pó (os ossos, sim, claro). Simplesmente retornamos ao Plano de onde viemos, o Espiritual (Superior)… e lá chegamos do mesmíssimo modo como somos aqui na nossa vida terrena. Não nos tornamos “santos angelicais” nem “arderemos nas labaredas do inferno” para sempre. Seremos lá o que somos aqui, simples assim!

Certos Espíritos (almas, se preferirem) desembarcam lá um tanto “perdidos”, seja à conta de uma morte súbita ou porque em nada acreditam. Ou pensam que do sarcófago vão direto “sentar ao lado de Deus Pai”. Ledo engano. Estes remanescem um bom período em carinhoso tratamento, nos hospitais espirituais (como ficou minha mãe querida, na Colônia São Sebastião, dirigida pelo Pe. Champagnat).

Lembrem-se das palavras do Cristo: “Na casa de meu Pai há muitas moradas” (sim, os espíritas somos cristãos e temos Jesus com o modelo de Espírito que chegou à perfeição). Ele é FILHO dileto de Deus, mas é uma criatura (especial) que chegou a ter forma humana. Ou precisou tê-la, para cumprir a sua missão, a DE ENSINAR O CAMINHO DA SALVAÇÃO! Jesus não “nos salvou”… definitivamente não… afinal, se já estivéssemos salvos pelo Seu martírio na Cruz, poderíamos fazer toda espécie de “danação” e tudo estaria ocá (não oquêi), modo de falar bem ao gosto do genial (este sim) Ariano Suassuna.

Olhem que quem hoje lhes diz isto é um ex-agnóstico (quase ateu, risos) que, no âmbito da sua área de (parco) conhecimento, foi um juspositivista “fanático” (até hoje devo um pedido de desculpas ao Prof. Arnaldo Vasconcelos pelas “brigas que tivemos, eu sem aceitar o Direito Natural de conteúdo Divino). Só não muda de ideia quem não tem ideia alguma, não é?

Existe, sim – infelizmente – o direito posto (positivado) pelos homens, não raro injusto, autocrático e objeto de repulsa, mas que se faz valer em nossa ambiência. “A Constituição mais precisa no homem é a consciência, capela onde a voz do Jurista do Universo declara as suas leis” (Valmir Pontes).

Minha mãe, que era católica fervorosa, me pediu para “fazer o catecismo” (na Igreja de Fátima, pois morávamos na Av. 13 de Maio, 901). Quando o padre (ou frei, não lembro”) falou da “Santíssima Trindade” eu, criança, ousei pedir a ele: “…por favor, me explique de novo, pois não entendi”. Resposta, aos gritos: “… você não tem que entender nada, só crer!”. Nunca mais voltei lá.

Durante anos andei meio “perdido” espiritualmente – na linha do Dr. Valmir, meu pai, que dizia: “meu filho, Deus existe, com efeito, mas é tão etéreo e misterioso, que prefiro não pensar nisto”. Ele, eu e minha mãe estávamos redondamente enganados. Ele é REAL, PRESENTE E OPERATIVO em todos os momentos da nossa vida. Hoje todos os três sabemos disto e minha mãe chegou a dizer, numa segunda manifestação escrita (faz tempo) que se havia tornando uma “espiritólica” (risos).

Numa plena terça-feira de Carnaval (isto há cerca de 13/14 anos) eu estava só, a pensar com meu botões e o balançar dos gelos no uísque (que não bebo mais), e resolvi ir à Casa Espírita já frequentada pela Elny. Logo nesta primeira vez que lá fui, após ser chamado pelo Médium (Nilton Sousa, brilhante professor de História), recebi uma carta psicografada do meu pai. Longa, minuciosa quanto a detalhes pessoais e familiares, nela ele grafou o nome da minha mãe como realmente é: HYRAD (bem inusual)! O Médium jamais a conheceu, nem a mim, antes daquele momento. Como saberia soletrá-lo?

São incontáveis as missivas recebidas na “Casa de Francisco” (que é, antes de tudo, um lugar de estudos, pesquisas e reflexões espíritas). De pais para filhos, o contrário (são as que provocam mais emoção), de avós e amigos. Até mesmo escritos e poemas de grandes nomes da literatura nacional que já partiram desta transitória existência. Aí está, por meio da comunicação espírita (psicográfica ou psicofônica, normalmente) O CONSOLADOR prometido por Jesus.

Tais cartas, tão minuciosas e detalhistas quanto a nomes, datas, locais e eventos, são “falsas” ou produtos de “fraude? Basta confirmar com os que as recebem, segundo as respectivas necessidades e merecimentos, a critério da Espiritualidade Superior, que prepara a reunião com bastante antecedência (embora alguns “improvisos” ela permita que ocorram). Há “animismo” por parte do “carteiro” (médium)? Quando ele é sério, NUNCA! Trata-se ele de um mero portador… e nem adianta falar ou pegar na sua mão, pois a carta só vem por decisão que independe dele. Trata-se, como é dito o redito, de um simples carteiro… “o telefone só toca de lá para cá” (CHICO XAVIER).

Jesus, por sinal, NÃO É DEUS, mas Filho d’Ele. Querem prova documental? Basta ver nos Evangelhos: “Não falei, de nenhum modo, de mim mesmo; mas de meu Pai, que me enviou, foi quem me prescreveu por seu poder, o que devo dizer e como devo falar” (São João, cp. XII, v. 49,50); “Minha doutrina não é minha doutrina, mas a doutrina daquele que me enviou” (São João, cap. VII, v. 16,17,18); “Meu Pai, REPONHO MINHA ALMA EM VOSSAS MÃOS”… após essas palavras, expirou. 

No “Evangelho Segundo o Espiritismo”, que deveria ser lido e comentado com frequência, inclusive no ambiente familiar, estão as lições que o Nazareno nos deixou A MANDO DE SEU PAI, o DEUS de todos nós. Segui-las é algo confortador, maravilhoso e essencial para o nosso progresso! 

Aliás, Jesus Cristo, que descalço andava com os descalços, nada escreveu. Quem o fez foram os discípulos, alguns que conviveram com o Mestre, outros após Seu retorno para a Casa do Pai (caso de Paulo, dantes Saulo). Por falar de Evangelhos, onde está o de Maria Madalena, discípula preferida, que esteve com Ele na crucificação e na corporificação fluídica do Seu Espírito? Foi omitido ou escondido por quem e por qual motivo?

Outro ponto merece ser referido, apesar de causar “desconforto” em alguns: MARIA não é, nem logicamente poderia ser, MÃE DE DEUS (como está numa linda oração, mas declamada sem crítica reflexiva). Caso fosse, quem seria o PAI? Deus é o CRIADOR, jamais criatura… Como devoto de Nossa Senhora (sim, como Espírita isto não me é “proibido”) eu a tenho como MÃE DE JESUS, expressão máxima de candura, pureza e bondade! Enquanto boa parte dos espíritas acredita que Jesus foi concebido de modo natural, isto é, através de (abençoada) relação sexual entre Maria e José, outros consideram que Jesus tenha sido um agênere, isto é, tornado visível e tangível por obra puramente espiritual.

Tudo é possível, segundo as Leis Divinas. Aquilo que se chama de “milagre” é algo, sem exceção, que ocorre segundo as LEIS NATURAIS de Deus. O fato de Jesus ter sido gerado de forma milagrosa contraria as vias normais de reprodução, e para o Espiritismo esta é uma questão relevante, uma vez que a reprodução humana é uma consequência das Leis Naturais de Deus. 

A doutrina codificada por Allan Kardec não nega a participação do “Espírito Santo” na concepção de Jesus, até porque sua reencarnação foi minimamente planejada pela espiritualidade superior (aqui entra a participação do “Espírito Santo”), entretanto, a fecundação de Maria se deu por vias normais, através de relação sexual entre ela e José, como acontece entre todos os casais. 

Outro ponto fundamental e delicado: existe, indubitavelmente, a REENCARNAÇÃO. Se a vida espiritual é eterna, uma só existência temporal neste (ou em outro) planeta seria suficiente para progredirmos e evoluirmos, corrigindo os erros que, como humanos, inevitavelmente cometemos? Deus, em sua misericórdia, sempre nos oferece uma chance, uma oportunidade nova para expiarmos nossas culpas.

Como explicar que uma criança nasça com defeitos físicos ou mentais? O que ela fez (de bom ou de ruim) para “merecer” isto? O Criador seria cruel a este ponto? NÃO… em vida anterior (e tivemos inúmeras, saibam…) esse Espírito cometeu algo grave, pelo qual está agora a responder. E reencarna sabendo disto, embora não se recorde já reencarnado, de sua vida passada (por caridade e para que possa exercer o seu livre-arbítrio na nova existência). Ademais, como explicar o sentimento de ”dejá vù” ou o simpatia ou antipatia inicial e “gratuita” por alguém que jamais encontrou nesta existência? Coisas do passado, ora bolas (vejam o filme “Nada é por Acaso”).

Minha fé doutrinária é uma fé fundada na razão (raciocinada), não baseada em meros dogmas (dogmática). Não adotamos, no Espiritismo, rituais, símbolos ou vestes especiais. Não impomos nada, pois você SÓ DEVE CRER NO QUE ENTENDE. Numa Casa Espírita inexiste hierarquia, “troca de favores” ou influências malsãs. Todos os que lá trabalham são voluntários, enquanto as obras sociais (de educação, saúde, esportes etc) são desenvolvidas graça a doações espontâneas.

Numa sessão de cartas consoladoras comparece um contingente (enorme, maior do que o dos encarnados) de Espíritos do bem, amparados por outros (de Luz). São elas realizadas em ambiente aberto, iluminado (sem penumbras assustadoras) e ventilado. Como se estivéssemos ao ar livre ou num “teatro” refrigerado. Não existem locais de “destaque” nem ninguém enrolado em lençóis brancos (risos). 

O que se recomenda é que, durante a sessão (reunião) nos mantenhamos em silêncio, concentrados e em conexão íntima e pessoal com o ente querido de quem você deseja receber uma mensagem. O SILÊNCIO É UMA PRECE. E a prece, por sua vez, não precisa ser aos gritos (Deus e Jesus não são surdos, é bom lembrar) nem feita a recitar as que foram decoradas. Converse, normalmente, com os Espíritos, como se eles estivesse fisicamente ao seu lado… e lhe ouvirão, de certo (todos nós podemos ser “médiuns evocativos”).

Já numa “mediúnica” (só recomendada para os iniciados) podem se manifestar aqueles que estão num patamar espiritual infeliz, sofrido, carente de auxílio e orientação. E geralmente são esclarecidos e socorridos. Não são “maus Espíritos”, apenas sofredores temporários, mas sempre merecedores da misericórdia de Deus (inclusive os suicidas, voluntários ou involuntários, que antes sequer podiam ser sepultados nos cemitérios, antigamente chamados de “campos santos”… algo fora de propósito!). Sobre este tema, porém, pretendo escrever outro texto, dada a sua complexidade).

Embora devote respeito formal a todas as religiões, em algumas enxergo ritualísticas desarrazoadas, bem como hierarquias  sem sentido… os “inferiores” devem, como numa casrrna, “bater continência” aos superiores. Ajoelhar-se, sentar-se e levantar-se em momentos certos… pelo que sei, Nazareno ajudava o ajoelhado aos seus pés a levantar-se imediatamente! Numa, em especial, causa-me espanto a “lavagem cerebral” realizada nos “fiéis”, que devem “temer a Deus”!

Jamais, entretanto, devemos ter por Deus “temor” algum… só respeito e MUITO AMOR E GRATIDÃO! Tal expressão é de “non sense” monumental! 

Para finalizar, transcrevo uma das cartas que recebi de minha mãe, a antever (vejam mais no final) que estou na fila para o desencarne (sem receio algum, risos).

CORAÇÃO PEREGRINO

(Hyrad Costa Pontes)

Bom Deus, o coração de uma mãe é um coração peregrino. Ultrapassando os portais da morte, segue com passos vacilantes. Os seus olhos, atrás de si, procuram gravar um adeus que depois se descobre um “até logo”. 

O coração de uma mãe é um coração peregrino, que depois de recuperado das supremas transições, ao lado de seu esposo, volta a visitar o antigo lar. 

Flores junto ao portão, o sonho do portão baixo, o olhar para dentro, o olhar além da porta, buscando o meu menino com suas canetas, a riscar e a desenhar no chão.

O coração de uma mãe é um coração peregrino, que ainda hoje ora. Não mais em casa, enquanto o filho se divertiria. Agora, em nova experiência, ainda ora, enquanto o filho vive sob o véu da carne. 

O coração de uma mãe é peregrino, que nunca para, que nunca fica estático, porque o seu coração é o ventre de um amor que ficou na Terra, um amor nunca esquecido, um amor que se fez homem, mas que sempre será a criança dessa mãe. 

E sempre por ele orará e sempre o abençoará. Para que os novos caminhos da vida, ao lado de minha nora querida, possam ser caminhos em que a simplicidade prevaleça, em que a bagagem diminua, já que sei, coração peregrino que sou, que nada levamos daí.

Isso é o suficiente para perceber que podemos perdoar, que podemos deixar para trás tudo o que possa nos pesar na alma, que podemos seguir sem medo. Porque esse coração peregrino de mãe estará aqui para recebê-lo, como se novamente renascesse do meu ventre.

Valmir Pontes Filho é jurista e professor

Nicolau Araújo

Nicolau Araújo

Nicolau Araújo é formado em Comunicação Social pela Universidade Federal do Ceará, especialista em Marketing Político e com passagens pelo O POVO, DN e O Globo, além de assessorias no Senado, Governo do Estado, Prefeitura de Fortaleza, coordenador na Prefeitura de Maracanaú, coordenador na Câmara Municipal de Fortaleza e consultorias parlamentares. Também acumula títulos no xadrez estudantil, universitário e estadual de Rápido.

Uma resposta

  1. Meu caro Valmir,
    Diferentemente ds reação de algumas pessoas quando o soube espirita, segundo seu relato, eu fui despertado para melhor conhecer essa doutrina, a partir da clarividência com que o dileto amigo enxerga o mundo e tudo ao sei redor.
    Há 7 meses minha esposa veio a óbito após 57 anos de casados e 60 dr convivência. Vivo um vazio imenso, suavizado pels presença e apoio dos 4 filhos, todos casadod, frutos de um abençoado matrimônio.

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