Quem conhece a história do vereador e engenheiro eletricista Carlos Mesquita, com oito mandatos na Câmara Municipal de Fortaleza, sendo os dois últimos na condição de suplente, conhece a própria história recente da administração da quinta maior capital brasileira, diante dos 11 anos de mandato do prefeito Juraci Magalhães, quatro anos de Antônio Cambraia, oito anos de Luizianne Lins, oito anos de Roberto Cláudio e atuais três anos de Sarto.

É que Mesquita sempre esteve atrelado ao poder, independente da ideologia política do gestor de plantão, na condição de articulador ou mesmo de liderança no Parlamento, como ocorreu na gestão Juraci e ocorre na atual administração Sarto.

Tamanho “alinhamento” já o levou à presidência do próprio Legislativo, nos dois últimos anos do mandato de Juraci Magalhães. Justiça seja feita, foi um dos maiores gestores da Câmara Municipal. Mesquita viabilizou e inaugurou a atual sede do Parlamento, criou a TV Fortaleza, instituiu a “Câmara nos Bairros” e a “Tribuna Livre”, além de potencializar o papel da Ouvidoria da Casa.

O já experiente vereador só não imaginava que os dois últimos anos de mandato do chefe Juraci seriam também o fim de uma carreira política, quando Magalhães não conseguiu eleger o seu sucessor e amargou uma (injusta) derrota para a Câmara Federal.

Talvez vivenciando situação semelhante com o prefeito Sarto – claro! guardada as devidas proporções em relação a Juraci Magalhães -, Mesquita por certo não enxerga como o atual gestor possa buscar uma reeleição, diante da ausência de uma marca de gestão e da falta de carisma junto ao eleitorado, pois Sarto não mais terá como tirar proveito do trabalho do então prefeito Roberto Cláudio, assim como não poderá ficar em casa na campanha, acometido de covid, enquanto RC carregava nas costas o volume de votos que garantiu a vitória no primeiro e segundo turnos.

Sem canal direto com o prefeito Sarto e sem respaldo da comunicação do Paço Municipal, quando sequer consegue ser municiado de boas ações da Prefeitura, Mesquita fez o que de melhor sabe fazer: articulação política. Mesmo que inversa.

No início da semana, Mesquita denunciou o chefe de cortar propositalmente a verba (ou parte dela) do Centro Regional Integrado de Oncologia (Crio). No uso da Tribuna, Mesquita, de forma habilidosa, colocou o fato como uma ação da Prefeitura de denunciar que o Estado não estaria cumprindo com a sua parte.

É óbvio que o vereador com oito mandatos sabia que a fatura cairia nos costados de Sarto, longe do governador Elmano. Mas o recado à gestão municipal por mais atenção e respeito foi devidamente endereçado. O arremate viria dois dias depois com a entrega da função da liderança do prefeito, com anúncio a colegas de Parlamento e políticos que se encontravam na Casa.

Carlos Mesquita não revelou se a sua articulação inversa teria dado certo. Mas, ao negar para a imprensa o que os seus pares testemunharam, o líder do prefeito há de ter melhor tratamento e benefícios maiores.

Sobre a má reputação junto à imprensa, quando nos corredores das redações os vereadores confirmaram “em off” a entrega da liderança, Mesquita nunca se importou com o que a mídia pensa de sua conduta política, pois o que ele nunca guardou segredo o que vale é tão somente o voto na urna. Principalmente agora, prestes a completar 70 anos de idade, quando a sua quase certa aposentadoria política precisa ser recompensada.

Aliás, foi Sarto quem colocou Carlos Mesquita na política, em 1988, apesar da derrota nas urnas. É Sarto quem poderá encerrar a carreira política de Mesquita, em 2024, com o resultado das urnas…

Nicolau Araújo é jornalista