Artigo – TRE cassa mulheres na Assembleia do Ceará

Uma lei criada para estimular a participação feminina está sendo usada para reduzir o número de parlamentares mulheres na Assembleia Legislativa do Ceará (Alece). A decisão esdrúxula do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará, que pune o Partido Liberal (PL) por fraude na cota de gênero, cassa o mandato de duas mulheres, que representa 50% da bancada do PL na Alece.

Com a decisão, dois homens ocuparão a cadeira onde se sentavam duas mulheres, resultando numa redução de 25% na bancada feminina, que era composta por nove mulheres, até então o maior percentual num plenário de 46 assentos. As nove representam 20% do parlamento cearense, cuja participação será reduzida a 15% se o Tribunal Superior Eleitoral confirmar a decisão do Estadual.

A Lei 9504/1997 determina uma cota de gênero (mínimo de 30%, máximo de 70) nas candidaturas. Foi criada para aumentar a participação da mulher na política. Os partidos, no entanto, por dificuldade de encontrar quadros ou por outro motivo, costumavam se contentar apenas em preencher o número mínimo da exigência legal, sem atentar para o espírito da lei. Os tribunais têm atuado para evitar a burla, quando as mulheres figuram como candidatura laranja, só para constar.

O PL cearense, que elegeu quatro deputados estaduais, foi condenado por essa suposta burla, que teria inscrito uma candidata sem sequer a anuência dela. Mas há várias circunstâncias a sopesar. Se as candidaturas femininas fossem apenas para catapultar as masculinas, e nenhuma mulher tivesse sido eleita, não haveria o que discutir. O PL foi o que apresentou o maior número de candidatas, e o partido que mais elegeu mulheres: 50% de sua bancada. Em números absolutos, o PT teve desempenho melhor, elegendo três, mas representando apenas 38% numa bancada de 8 parlamentares.

O PL, além de ter apresentando o maior número de candidaturas femininas, além de ter 50% de sua bancada composta por mulheres, ainda tem como líder da bancada do partido a Dr. Silvana, uma mulher liderando homens. Se há um partido que se possa dizer que mais contribuiu para o empoderamento da mulher no Ceará é o PL. Já houve uma mulher com protagonismo semelhante na legislação anterior, quando Augusta Brito (PCdoB) era líder do governo. Mas, aí, a decisão não foi partidária, mas governamental.

Se os partidos que apresentam mulheres, só para concorrer, descumprem o espírito da Lei, no caso da punição ao PL, é o Tribunal que desconhece o espírito da Lei, certamente por causa da venda nos olhos, um dos símbolos da Justiça, mas como o espírito é imaterial, bastaria um pouco de sensibilidade para perceber que a lei foi feita para elevar a mulher ao protagonismo político, não para cassá-las, num mundo em que elas costumam ser caçadas.

Qualquer assassinato de mulher passou a ser enquadrado como feminicídio, numa categoria mais grave de homicídio. A morte do mandato de Dra. Silvana e Marta Gonçalves poderia ser enquadrado como feminicídio político.


Assista ao comentário, um recorte do Café com Cléver, programa veiculado nas rádios:
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Luciano Cléver

Luciano Cléver

Jornalista formado pela UFC, em 1988, coordenou o núcleo de comunicação da Caixa por 18 anos, trabalhou como repórter na Gazeta Mercantil, no Diário do Nordeste como secretário de redação, editor do jornal Expresso do Norte (Sobral), foi editor do portal do Sistema Paraíso. Está à frente do programa de rádio Café com Cléver, veiculado na rádio Paraíso FM (Sobral). E nas redes sociais (Youtube.com/@cafecomclever). É comentarista na TV União. Cristão, apaixonado por cinema, vinho e xadrez.

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