A instalação de uma unidade do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) em Fortaleza, no Ceará, deverá impulsionar o desenvolvimento tecnológico de todo o Nordeste e ajudar a dar mais equilíbrio no desenvolvimento do país, disse Suzeley Kalil, pesquisadora e professora da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas.
“A instalação do ITA traz a promessa de desenvolvimento realizada pela implantação do instituto na cidade de São José dos Campos (SP), que passou a ser atrativa para empresas de alta tecnologia. Porém, se olharmos para outros centros de ensino, verificamos que não o ITA em si, mas a presença de centros de pesquisa de alta complexidade é que traz o desenvolvimento. Assim, penso que a instalação de qualquer centro de pesquisa no Nordeste é de grande importância, não apenas para o desenvolvimento regional, mas também para promover maior equilíbrio no desenvolvimento do país”, acrescentou.
Outra razão que poderia explicar a instalação de uma unidade do ITA no Ceará, disse Suzeley, é o fato de que o idealizador e verdadeiro construtor do ITA, Casimiro Montenegro, era natural do Ceará.
Em setembro, durante uma visita do ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, o reitor do ITA, Anderson Ribeiro Correia, também falou sobre o avanço que a nova unidade poderá trazer para a região.
“Será uma oportunidade de reter mentes brilhantes, que, historicamente, vêm sendo aprovadas nos vestibulares para o ITA, e aproveitá-las na contribuição para esse desenvolvimento”, disse ele, na ocasião.
Modelo avançado
Suzeley Kalil afirmou que o modelo de educação proposto pelo ITA – com a formação de engenheiros militares e civis – é avançado, mas com poucos exemplos pelo mundo.
“O ITA traz em si uma visão de desenvolvimento muito particular, que visa a autonomia do país e que tem no estado seu grande pilar. Tal visão é o reverso da concepção liberal que é majoritária no Brasil. Os anos que separam a inauguração do ITA sudestino para o nordestino estão basicamente relacionados com uma visão vira lata de país – a função do Brasil no mundo é produzir commodities – e preconceituosa de seu povo – o brasileiro é preguiçoso e indolente”, avaliou.
Para ela, o ITA não se encaixa como uma escola militar, mas como um centro de pesquisa, que deveria ser um exemplo para o país.
“A educação militar deveria ter no ITA seu padrão, isto é, defendo que não deveriam existir escolas apenas para a formação de oficiais das Forças Armadas, mas escolas que formassem cidadãos e academias de tempo parcial para treinamento específico militar. Assim, penso que se tivéssemos mais escolas como o ITA não teríamos Forças Armadas apartadas da sociedade, como são as nossas Forças Armadas hoje”, disse ela. E finalizou: “As escolas militares são celeiro de autonomia militar, desenvolvendo militares que acreditam ter como missão tutelar a sociedade”.
(Agência Brasil)