Artigo – O fascismo se arma. Todo cuidado é pouco

O que quer que escrevam na conclusão dos trabalhos da CPMI do 8 de janeiro só existe uma hipótese inarredável: a quem interessava um resultado diferente para a eleição de 30 de outubro de 2022?

O mundo estava de olho em nós e principalmente os EUA, os primeiros a reconhecerem a vitória de Lula, seguido do presidente da Câmara, Arthur Lira, é claro. Amanheceu na porta do gabinete do novo presidente, disposto a apresentar a sua listinha de exigências. Não sem antes ter o cuidado de jogar no lixo a camiseta azul, onde se lia: 22, número da candidatura do antigo ocupante do cargo.

Com a ajuda dos chegantes subiu novamente no posto de dono da Câmara, espezinhou o ministro da Fazenda que, macio, esticou a mão. Brigou com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, até agora um “fidalgo”, como o definiu Luiz Roberto Barroso. Não avistava ainda a possibilidade de colocar no posto, como sucessor, Davi Alcolumbre, esticando em uma aliança gananciosa um pouco mais de sua influência na casa.

Agora, que Lula despacha de casa, recuperando-se da intervenção no quadril, sem ter muito como mover a cintura para ajeitar as coisas, as margens entre os poderes se dissolvem, as instituições ficam borradas, o de cá invade o poder do vizinho, executando, continuamente – esse processo nunca foi interrompido, vazou de um governo para o outro -, o plano do antecessor, de desmoralizar o Supremo. E com toda razão Barroso apontou o poder que dirige como guardião da Constituição e da democracia, no momento mais crítico que enfrentamos nos últimos anos – fora o impeachment, é claro.

Há um plano mundial em marcha para puxar para a extrema direita o prumo dos países e governos. Do topo, Steve Bannon dita as regras, solta as senhas, instrui os memes e tick-toks. E lá vamos nós sufocados, emparedados, mergulhados na força do agro, dos ogros, de todas as falanges divinas que tomam nacos de poder na Câmara e no Senado. A cantilena é uma só: enfraquecimento dos poderes, partir para o “tudo ou nada”, avanço sobre os latifúndios de verbas e garantir o “controle”.

Para completar, a insegurança não arrefece. Em estados antes vistosos, economicamente pujantes e turísticos, as manchetes são a violência. Não dou dois dias para aqueles canais de mídia bem arrumados estarem bradando por uma Garantia da Lei e da Ordem (GLO), para “arrumar a casa”. São Paulo, palco de chacinas insolúveis. O Rio de Janeiro, onde as chacinas se somam ao domínio da milícia – quer o governador Claudio Castro concorde ou não com os números -, agora tem um crime horrendo para ser resolvido, a morte de médicos ortopedistas na Barra da Tijuca. E o discurso é o de sempre: as esquerdas não sabem lidar com a segurança pública. Só a força garante tranquilidade, num antônimo difícil de digerir.

O ex-ministro José Dirceu tem razão, ao chamar a atenção para a eleição dos Conselhos Tutelares e para o quadro que se desenha como prévia das eleições municipais, colocando líderes fundamentalistas no primeiro degrau de poder, o dos Conselhos nas comunidades. Está certo ao dizer que é preciso um freio de arrumação e uma discussão profunda do campo progressista para não levar mais uma lavada em 2024. O tempo é pouco. As ameaças, muitas e a organização carece de ser levada a sério. É para ontem. O fascismo bolsonarista se arma. Todo cuidado é pouco.

Denise Assis é jornalista e Mestra em Comunicação pela UFJF

Nicolau Araújo

Nicolau Araújo

Nicolau Araújo é formado em Comunicação Social pela Universidade Federal do Ceará, especialista em Marketing Político e com passagens pelo O POVO, DN e O Globo, além de assessorias no Senado, Governo do Estado, Prefeitura de Fortaleza, coordenador na Prefeitura de Maracanaú, coordenador na Câmara Municipal de Fortaleza e consultorias parlamentares. Também acumula títulos no xadrez estudantil, universitário e estadual de Rápido.

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