Em algum lugar do passado

Em algum lugar do passado eu fui jovem, nem feio nem bonito (suportável, diria), comia frutas tiradas das árvores que enfeitavam o quintal da casa dos meus pais – com que convivia nos diários almoços e jantares e aprendia com eles tanta coisa – andava descalço, jogava bola no terreno cheio de pedras, raízes e buracos de formigueiros.

Nesse lugar, eu ouvia os pássaros, criava pombos e peixes (num tanque), deitava no muro (baixo) de casa e via incontáveis estrelas (a sonhar em ser construtor de foguetes que me levassem até elas). No jardim, colhia flores para dá-las à minha mãe e levava broncas (carinhosas) da minha “mãe-babá” (Diassis) quando começava a chover. Mas corria para tomar banho de formidável bica que havia lá.

A Av. 13 de Maio era esburacada, mas o clima era adorável (havia o “vento aracati”). Nela só existiam casas, a Igreja de Fátima (onde eu jogava vólei nas quadras, mas não gostava das missas) e uma vacaria onde o leite (mugido) era buscado toda manhã. Tinha o “Cine Atapú”, a mostrar filmes de caubói e a Rua Monteiro Lobato, indefectivelmente fechada para a festa de São João dos seus moradores, com fogueira grandona e tudo.

Não era proibido dizer pivete, amulherado, velho encarquilhado, magrão, negão, caolho… ou olhar as “brechas” (raras) que as meninas davam, algumas malvadamente de propósito. Chupava-se picolé que ficava incolor na terceira lambida, colocava-se mertiolate ardoso nas feridas e um cascudo era, não raro, necessário e educativo.

Estudei (muito, pois era bem dedicado… o que me “matava” era a matemática) no Christus e no Batista, no tempo do Dr. Davis, e de lá tenho enormes saudades. Inclusive da cantina e das paqueras envergonhadas. Fiz o curso pré-vestibular no “Joaquim Pimenta” e cursei o primeiro ano da faculdade do Rio, morando na Rua Paissandú (no Flamengo, na casa da Tia Diva e do primo Oswaldo, flamenguista irrecuperável e, hoje, economista notável).

Andava pela Cidade Maravilhosa, dia ou noite, sem medo algum. Ia ao Maracanã (de ônibus) e assisti a todos os jogos (lá) das eliminatórias da Copa de 70. Época das mini-saias, das festinhas, nos meninos ricos andando de kharmann guia, do meu Botafogo de Gérson e companhia.

Nesse tempo (ou talvez um pouco antes), meus pais eram fãs de Kubitschek, um patriota (ops, é permitido usar esta palavra?) amante da bossa nova, da liberdade e do desenvolvimento. Parece que ele “reencarnou” mas perseguem o “reencarnado” como se fora um demônio… outro real, porém, está a alçar um lugar bem alto… o céu terreno, é o que dizem!

Mas tudo isso foi em algum lugar do passado…

Valmir Pontes Filho é jurista e professor

Nicolau Araújo

Nicolau Araújo

Nicolau Araújo é formado em Comunicação Social pela Universidade Federal do Ceará, especialista em Marketing Político e com passagens pelo O POVO, DN e O Globo, além de assessorias no Senado, Governo do Estado, Prefeitura de Fortaleza, coordenador na Prefeitura de Maracanaú, coordenador na Câmara Municipal de Fortaleza e consultorias parlamentares. Também acumula títulos no xadrez estudantil, universitário e estadual de Rápido.

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