RACHEL DE QUEIROZ, A INVISÍVEL
Há 20 anos morria no Rio de Janeiro a escritora cearense Rachel de Queiroz, durante muito tempo incensada pela mídia brasileira e pelos círculos acadêmicos. Ao que parece a autora do romance O QUINZE foi cancelada pela esquerdalha que se apropriou da Academia e dos órgãos de comunicação. Não vi em lugar nenhum nem uma notinha de pé de página para lembrar a memória de Rachel. Nem a Academia Brasileira nem a Cearense deu um pio em homenagem àquela que foi a primeira mulher a ser eleita para a ABL. Agora tem gente mais importante do que Rachel na Academia, como o indígena Ailton Krenak (índio quer apito) e Gilberto Gil, ambos vermelhos. Rachel também vermelha, do Partidão, mas rompeu com a canalha quando quiseram censurá-la, impondo-lhe roteiro ao romance JOÃO MIGUEL. Rachel preferiu cair fora da armadilha do maucaratismo.
CENSURA
O romance JOÃO MIGUEL foi escrito no limiar da década de 1950, com os comunas dando as cartas no meio intelectual. Quase todos os bons jornalistas e escritores da época eram discípulos de Prestes, o Cavaleiro da Esperança. Pontificavam entre eles Jorge Amado e Graciliano Ramos. Rachel, já famosa por causa d’O QUINZE, com página semanal na Revista O CRUZEIRO, a mais imporante do País, também se inscrevia como militante do Partidão, que a convocou. Os censores, seguindo os preceitos stalinistas em moda, determinaram que Rachel desse rumo diferente a personagens da história. Intromissão indevida na liberdade de criação, censura desavergonhada.
JOÃO MIGUEL
O romance objeto da sacanagem conta a história da vida em prisão um criminoso de morte, sua convivência na cadeia com outros meliantes e mulheres de má fama. Santinha, amásia de João Miguel, dava-lhe caridosa assistência. Porém, depois de tempo desmanchou-se de amores por um policial, o cabo Salu. Ora, uma proletária abandonar o companheiro proletário por um milico? Onde já se viu isso em ficção escrita por comunista? Isso é postura moral de escritor burguês. Rachel tinha que se submeter aos parâmetros literários do realismo socialista. Que arranjasse um meio de retirar o par de chifre da cabeça de João Miguel. E mais: por que a burguesa Angélica que andou fazendo agrados a João Miguel não poderia se apaixonar pelo proletário preso? Taí, seria uma boa demonstração simbólica de submissão da classe superior ao proletariado, um indicativo do caminhar da história para o socialismo. Diz-se que Rachel ouviu enojada toda aquela baboseira ideológica, aquela proposta indecorosa. Para não perder os originais, pediu-os prometendo revê-los segundo a sugestão dos idiotas. Colocou-os debaixo do braço e… pernas para que te quero. Nunca mais voltou ao partideco que a megalomania dos dirigentes chamavam de Partidão.
FEMINISTAS SILENTES
A propósito: onde andam hoje as feministas tão ciosas de exaltar mediocridades só pelo fato de vestirem saia. Nenhuma palavra sobre a memória de Rachel. Aliás, em alguns casos essas feministas metidas a sabichonas são pródigas em exaltar suas similares menos por se vestirem e mais por tirarem as vestes em sinal de protesto por qualquer coisa. E algumas dessas filhas de Eva se excedem na canalhice e com ar professoral defendem as maiores aberrações, como o direito de roubar, conforme o descaramento de uma delas chamada Márcia Tiburi, autointitulada artista e filósofa. Pode até ser. Mas, aquele tipo de filosofia que com a qual ou sem a qual o mundo continua tal e qual. Filósofa de botequim.
DIREITA VERDE-OLIVA
O problema que esse pessoal tem com a Rachel desde algum tempo reside no preconceito de lugar e de cor. Rachel trocou o lado esquerdo que queria castrar sua criatividade literária pelo lado direito, que lhe proporcionou liberdade para escrever. Trocou o vermelho do sangue dos muitos crimes cometidos pelos comunistas pelo verde-oliva de defesa dos valores da Pátria e da brasilidade. Verde-oliva que não deve ser confundido com a cor da farda de alguns generais calças frouxas que perambulam por aí a prestar continência a personagens da organização criminosa que retornou ao local do crime (créditos para o senhor Geraldo Alckmin). Não nos esqueçamos que a mais importante romancista brasileira tornou-se grande amiga de outro respeitável cearense, o marechal Castello Branco. Só em pensar nisso a esquerdalha pira.
Barros Alves é jornalista e poeta