Quando 500 mil homens adentraram na Rússia, sob o comando do general e imperador francês Napoleão Bonaparte, na segunda década dos anos 1800, somente 27 mil conseguiram retornar à França, famintos, doentes e humilhados. De modo equivocado, a História atribui à estratégia russa ao rigoroso inverno. Mas foi o tempo, não o climático, mas o da grandeza física, o responsável pela vitória que determinaria o fim da Era Napoleônica, concretizada três anos depois em Waterloo. 

O inverno russo chegaria de qualquer modo. O tempo para induzir o exército francês a enfrentá-lo foi a arma principal, diante do calendário na decisão da Rússia pela quebra do Bloqueio Continental, então determinado pela França contra a Inglaterra. 

A mesma arma do tempo, os russos empregaram contra o exército nazista de Hitler, exatos 130 anos depois, em Stalingrado. 

Ora o tempo é da espera, ora o tempo é do imediatismo, nesse último caso que o digam Hiroshima e Nagasaki… 

Assim como o tempo é a arma mais eficiente nas guerras, o mesmo ocorre no campo da Economia. Grandes empreendimentos muitas vezes se valem do tempo da espera, enquanto investimentos tecnológicos quase sempre empregam o tempo do imediatismo. 

A grande arma das guerras, no entanto, não surte o mesmo efeito na economia, quando empregada equivocadamente. Todos sofrem, todos perdem… 

É o caso de uma batalha no Ceará que se arrasta por quase sete anos entre os Studarts e os Macêdos. Com a mesma desumanidade imposta aos judeus, quando da apropriação de suas propriedades, na então primeira ação coordenada do regime nazista contra os israelitas, os Studarts se apropriaram de um terreno hipervalorizado dos Macêdos, no Parque do Cocó, para a construção do Moma Condominium, localizado na avenida Santos Dumont. 

A apropriação se deu na artimanha da permuta do terreno em troca de unidades do Moma como percentual do Valor Geral de Vendas. O terreno na área mais valorizada de Fortaleza foi entregue, mas as unidades do Moma não. 

A Magis Incorporações, que tem à frente o empresário Carlos Alberto Studart Gomes Neto, o Deda ou o “filho do Seu Beto”, entregou todo o empreendimento ao Banco do Brasil para saldar uma dívida pessoal do jovem Studart, provocando um prejuízo estimado de dezenas de milhões de reais aos compradores e permutantes de unidades do Moma Condominium, diante das hipotecas em seus apartamentos. Na prática, pessoas de boa-fé trabalharam uma vida inteira para reparar o infortúnio do herdeiro do Seu Beto. 

O banco somente colocou as garras no Moma, após o jovem Studart não possuir outros bens para servirem de garantia da sua dívida pessoal. Isso, depois de Deda dilapidar parte do patrimônio e do Seu Beto provocar uma intervenção nos negócios do filho e fazer o “arrasto” do que sobrou, primeiro que o BB, no uso do tempo do imediatismo. 

Enquanto isso, os compradores de unidades do Moma Condominium foram submetidos ao tempo da espera. Alguns já se renderam e arcaram com parte do prejuízo, ao renegociarem suas unidades quitadas por até metade do valor investido, quando então foram convencidos pelos Studarts a uma má-sorte no mercado imobiliário. 

Mas, agora, os Studarts perderam a arma do tempo, quando o caso deverá ir para a esfera criminal. Na verdade, talvez nunca possuíram o tempo, quando apenas se valeram da amabilidade dos Macêdos. E nada aprenderam de bom com isso. Também não percebem que, após tantos anos, alguns já não possuem mais tanto tempo, não o da grandeza física, mas o da natureza humana… 

Fábio Timbó é advogado, integrante do Escritório Fábio Timbó Advogados Associados e procurador e advogado dos permutantes